quinta-feira, 4 de maio de 2017

Resenha do livro “Para Sempre Alice”

Autor (a): Lisa Genova
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 288
Publicação: 2009

Alice Howland é uma professora universitária de psicologia, e especializada no estudo dos mecanismos da linguagem de uma das mais importantes e renomadas Universidades do mundo, Harvard. É casada com John, um cientista bem sucedido que também é professor em Harvard, e é mãe de três filhos: Anna, Tom e Lydia. Alice é uma mulher independente, já publicou vários livros e é pesquisadora, além de também dar palestras em vários países. No início, durante uma palestra, Alice esquece uma palavra, tinha uma vaga ideia do que queria dizer, mas a palavra em si lhe escapou. No decorrer do livro, os esquecimentos vão aumentando e se tornando mais frequentes. Alice acaba ligando esses acontecimentos ao estressa causado pela correria do seu dia a dia. Porém, durante uma caminhada ele se perde e não consegue lembrar o caminho de volta para casa. Decidindo, desta forma, procurar um médico.
Após alguns exames, ela recebe o diagnóstico. Alice com apenas 50 anos, tem Alzheimer de instalação precoce. Está doença só difere da forma das pessoas mais velhas pelo fato de que a causa costuma ter um forte componente genético, e de que a doença se manifesta mais cedo.

“Forte componente genético. Anna, Tom, Lydia.” (p. 72)

Alice não consegue acreditar que tem Alzheimer. Com o diagnóstico sua vida começa a desmoronar junto com suas memórias. Alice pensa nos filhos e passa a pensar em como será o futuro, o seu futuro. No decorrer da leitura, nos deparamos com conflitos familiares e percebemos com detalhes os estágios da doença e como ela avança cada vez mais. Observamos todas as mudanças que acontece na vida de Alice. As mudanças com sua família, no ambiente de trabalho e com si mesma. O sofrimento da personagem é algo que machuca o leitor em cada parte da leitura. É um livro envolvente e emocionante, que nos coloca no lugar de Alice, que nos faz refletir sobre o Alzheimer e compreender mais sobre a doença.
De longe, a parte mais emocionante de todas para mim e que me levou as lágrimas foi aquela em que Alice discursou num encontro de pessoas com Alzheimer e seus cuidadores. O discurso nos faz pensar bastante em como a sociedade olha os portadores de Alzheimer e acerca de vários pontos de extrema importância da nossa vida.

“Eu os incentivo a nos capacitarem, não a nos limitarem. Quando alguém tem uma lesão na medula espinhal, quando alguém perde um membro ou tem uma deficiência funcional por causa de um derrame, as famílias e os profissionais de saúde se empenham arduamente em reabilitar essa pessoa, em descobrir modos de ajudá-la a enfrentar e a superar os problemas, apesar de suas perdas. Colaborem conosco. Ajudem-nos a desenvolver instrumentos para funcionar, contornando nossas perdas de memória, linguagem e cognição. Estimulem a participação em grupos de apoio. Podemos ajudar uns aos outros, tanto os pacientes com demência quanto os que cuidam deles [...] Meus ontens estão desaparecendo e meus amanhãs são incertos. Então, para que eu vivo? Vivo para cada dia. Vivo o presente. Num amanhã próximo, esquecerei que estive aqui diante de vocês e que fiz este discurso. Mas o simples fato de eu vir a esquecê-lo num amanhã qualquer não significa que hoje eu não tenha vivido cada segundo dele. Esquecerei o hoje, mas isso não significa que o hoje não tem importância." (p.241)

Quando soube que se tratava de uma história sobre alzheimer, o meu sofrimento, acompanhando a protagonista, só aumentou e me fez mergulhar com profundidade na trama. O livro é de uma leitura muito fácil e gostosa. A autora narra à história na terceira pessoa e de uma forma tocante, deixando o leitor com o coração dilacerado com todo o sofrimento que a personagem passa. É uma leitura que faz repensar toda a sua vida e refletir sobre tudo. O modo como Alice enfrentou a sua doença é incrível. É uma protagonista forte e determinada, que tenta lutar por sua vida e tenta aproveitar ao máximo de consciência que lhe resta, são poucas as pessoas que tem a coragem dela. Cheia de vida, Alice nunca deixou se abater por sua doença e por mais grave que fosse em nenhum momento deixou que isso acabasse com sua vontade de viver. Sua história nos mostra o quão importante é o apoio da família e dos amigos nesse momento tão difícil. Ao fechar o livro, é impossível você não ficar renovado, e com o pensamento de que apesar de tudo, deve enfrentar o seu problema. É uma lição de vida o que me lembra do livro “A Culpa é das Estrelas” que uma amiga apresentou em sala, que conta a história de Hazel, uma paciente terminal de 16 anos que apesar da doença, não se faz de vitima e tanta manter o bom humor, preferindo a companhia de livros, filmes e da família e vivendo segundo o lema do Grupo de Apoio a Crianças com Câncer que em poucas palavras é: viver o máximo do dia hoje. Segue o link: http://mariathayselima.blogspot.com.br/. Outro livro que me lembra muito do Alzheimer é “Diário de uma Paixão” que conta a história de Allie e Noah. Duke é um senhor que vive Em uma casa de repouso. Todos os dias, ele lê para uma senhora que sofre de Alzheimer um capítulo de uma linda história de amor, que foi escrita num velho diário. É um livro lindo que mostra o sentido do amor, e porque ele existe. Segue o link: http://vocedebemcomaleitura.blogspot.com.br/2017/03/resenha-diario-de-uma-paixao.html.

Para Sempre Alice é, sem dúvida alguma, um livro que todos deveriam ter a oportunidade de ler. Nele vemos o significado da vida e do amor, e podemos até mesmo parar para refletir e mudar muitos dos nossos conceitos.



Deixo aqui alguns sites relacionados ao tema Alzheimer:

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Entrevista

Sou complicada quando o assunto é entrevistar alguém, por isso tive dificuldades para encontrar uma pessoa. Na verdade acho que compliquei um pouco, afinal se não houvesse complicação por minha parte, não seria eu não é verdade?! Para minha sorte, meu namorado me ajudou e perguntou a mãe de um colega nosso se eu poderia entrevistá-la, e graças ao bom pai, ela disse sim.
Maria Cícera dos Santos Rocha Gomes, 61 anos, domiciliada em Maceió, formou-se em Recursos Humanos e História. Ao iniciar a entrevista, perguntei como foi o seu processo de aprendizagem na escola e quem a incentivou a ler. Ela me respondeu que foi rápido, pois foi alfabetizada pela mãe e que aos 4 anos já lia tudo, por isso não teve dificuldades quando foi para a escola. Dona Maria, teve dois incentivos, um foi à mãe, que apesar de ser uma pessoa muito humilde e de pouca leitura, fazia questão de que os filhos aprendessem a ler. E seu maior incentivo foi o pai ser analfabeto.

“Foi eu olhar para o meu pai e as minhas lágrimas descerem ao ver que para ele assinar teria que colocar o polegar, teria que deixar as digitais e isso eu coloquei na cabeça 'eu não vou ser assim'.”

Desde muito criança, tudo que batesse em suas mãos ela lia. Mas os livros que a despertaram para a leitura foram os de Zíbia Gasparetto e O Evangelho Segundo Allan Kardec. Esses livros mudaram sua perspectiva e lhe trouxeram coisas novas e positivas. Hoje, dona Maria lê com muita frequência, e quando lê mais de uma vez faz doação pelo fato da carência de livros no nosso país ser muito grande. Então a questionei sobre o porquê de poucas pessoas comprarem livros, ela, imediatamente, disse que é porque o livro no nosso país é muito caro, e isso não incentiva ninguém a comprá-los. Quando temos alguém que nos ajuda, somos incentivados pelo fato de alguém comprar para nós, mas para isso tem que ter uma renda que contribua. Comprar livro hoje é um absurdo, a nossa educação é muito cara, e por isso existe tanta gente analfabeta no nosso país.
Quando a questionei sobre a importância da leitura na sua vida pessoal e na vida das pessoas, ela respondeu que não só na vida dela como na vida de todos nós a leitura é importantíssima. A leitura é importante porque nós faz crescer, e abre nossa visão. Sem a leitura nós somos cegos (verdadeiros cegos). Para dona Maria, a leitura foi e é tudo, o que ela conseguiu, e tudo o que passou para chegar onde está hoje foi tudo através da leitura.

“Fiz agora a cirurgia de catarata e terça agora próxima farei outra. Mas fiz justamente porque o meu medo é de um dia não poder ler, um dia não enxergar, e isso tiraria minha razão de viver, porque hoje eu vivo.”

                Continuei a entrevista perguntando se ela passou o gosto pela leitura para seu filho, sua resposta foi que sim, que com 4 ou 5 anos ele foi alfabetizado por ela mesma. Com isso, perguntei se ela já pensou em escrever um livro, ela me disse que era seu maior sonho, que se antes de morrer não escrevesse um livro morreria insatisfeita.
Indaguei-a sobre o papel da família na formação do leitor, ela me falou que o incentivo é fundamental, tanto para a criança como para o adulto que ainda é analfabeto e está começando a ser alfabetizado agora. Porque o incentivo é o pontapé inicial para a vida profissional dele quando criança pra chegar à vida adulta, e para o adulto analfabeto que está se alfabetizando é uma abertura de visão, porque até então ou até antes de aprender a ler ele era uma pessoa cega.
Curiosa, perguntei qual livro ela me indicaria e o porquê, ela sorriu e me respondeu que a bíblia, porque é um livro atual, é um livro antigo, é um livro de todo tempo. Que na bíblia encontramos fatos com aconteceram há 200 anos a.c e fatos que estão acontecendo hoje e que ainda irão acontecer. O que dona Maria recomenda hoje para qualquer pessoa, independente de religião, e até mesmo para um ateu, é ler a bíblia, ler e analisar. Porque todos nós temos uma visão e uma interpretação diferente.
Finalizei a entrevista perguntando se ela acha que é possível despertar o interesse pela leitura em pessoas mais velhas, tardiamente alfabetizadas, e que ação recomendaria nesse sentido. Ela falou que hoje nós temos muitas pessoas analfabetas e funcionais. No nosso país o que os políticos querem são pessoas analfabetas, então o adulto quando aprende e começa a ler, abre-se o mundo para ele. Ela diz vai depender dele, exclusivamente dele. Que se ele tiver vontade não ficará só no B A BA. Mas que a família que estiver ao redor dessa pessoa tem sim que dá o incentivo. Ela acredita que se a pessoa se esforçar com a ajuda da família, com ajuda da escola poderá até chegar a se formar, a ter uma graduação.

“Todo ser humano, nós seres humanos temos um potencial muito grande que chama-se consciência, então quando nós temos a consciência do que queremos e corremos atrás do que queremos, nós conseguimos. O adulto ele pode sim chegar aonde ele quiser, desde que tenha vida, desde que esteja consciente, só depende dele. Lógico, meio familiar ajuda.”

Analisando minha narrativa, concluo que a leitura em geral é um importante instrumento de transformação da realidade. Garantir a todos o acesso à leitura deve ser uma política de Estado, mas cabe a nós dedicarmos um tempo do nosso dia a um bom livro, incentivar nossos amigos e familiares a se apegarem à leitura. O hábito da leitura deve ser estimulado ainda na infância para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e, acima de tudo, prazeroso.